Na continuação do tema Oração de Fátima, transcrevo um excerto de uma carta da Irmã Lúcia de 31 de Agosto de 1941, e que mais uma vez comprova que a versão original é a que se refere às almas que estão em perigo de condenação e não às almas do Purgatório:
Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo: disse já a
V. Ex.cia Rev.ma, em os apontamentos que enviei depois de ler o livro
«Jacinta», que ela se impressionava muito com algumas coisas reveladas no
segredo. Realmente, assim era. A vista do Inferno tinha-a horrorizado a tal
ponto, que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir
livrar de lá algumas almas.
Bem; agora respondo já ao segundo ponto de interrogação
que, de várias partes, aqui me tem chegado. Como é que a Jacinta, tão
pequenina, se deixou possuir e compreendeu um tal espírito de mortificação e
penitência?
Parece-me que foi: primeiro, por uma graça especial que
Deus, por meio do Imaculado Coração de Maria, lhe quis conceder; segundo,
olhando para o Inferno e desgraça das almas que aí caem.
Algumas pessoas, mesmo piedosas, não querem falar às
crianças do Inferno, para não as assustar; mas Deus não hesitou em mostrá-lo a
três, e uma de 6 anos apenas, e que Ele sabia se havia de horrorizar a ponto
de, quase me atrevia a dizer, de susto se definhar.
Com frequência se sentava no chão ou em alguma pedra e, pensativa, começava a dizer:
– O Inferno! o Inferno! que pena eu tenho das almas que
vão para o Inferno! E as pessoas lá vivas a arder como a lenha no fogo!
E meio trémula ajoelhava, de mãos postas, a rezar a
oração que Nossa Senhora nos tinha ensinado:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Agora, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, já V. Ex.cia Rev.ma compreenderá por que a mim me ficou a impressão de que as últimas palavras desta oração se referiam às almas que se encontram em maior perigo ou mais iminente de condenação.
Irmã Lúcia in «Memórias da Irmã Lúcia».