Eu compreendo as dúvidas e hesitações. Vivemos um momento crítico da história do pensamento político, e mais simplesmente, um momento crítico da história do mundo. Tudo está em crise ou é sujeito a crítica: a moral, a religião, a liberdade dos homens, a organização social, a extensão intervencionista do Estado, os regimes económicos, a própria Nação e as vantagens da sua independência, ou da sua integração com outras, para a formação de grandes espaços económicos e políticos. Discute-se na Europa a própria noção de pátria.
Revoluções como a soviética continuaram no domínio dos factos e da filosofia as revoluções que vinham detrás, da Reforma e da Revolução Francesa, e como todos os grandes movimentos na posse da sua força inicial, têm tendência a alastrar e a dominar o mundo, envenenando-nos com visões e princípios que estão longe de executar em seus domínios de origem.
Os espíritos mais puros inquietam-se, perturbam-se, não sabem como orientar-se, e repetem angustiadamente a pergunta de Pilatos ao próprio Cristo: O que é a verdade? A dúvida em suas hesitações e desvairos não permite trabalho eficiente; o espírito humano precisa de aderir à verdade, precisa de certezas para se orientar e agir. Nenhum Estado pode existir sem basear-se nelas ou presumi-las definidas e aceites. Foi por isso que, ainda não tão largamente alastrada a crise actual, há precisamente trinta anos, e nesta mesma cidade de Braga, eu senti a necessidade de proclamar as grandes certezas da Revolução Nacional.
Independentemente do que transcende a ordem natural, a desapaixonada observação dos factos e a experiência dos povos, através da sua vida milenária, revelam-nos algumas dessas certezas. Mas nós temos outro indicador para avaliar da sua justeza: os frutos produzidos na vida e progresso da Nação, isto é, se com os princípios que essas mesmas certezas traduziam pudemos criar entre nós a paz, pudemos organizar a vida social e nela prosperar.
Porque o nosso movimento se afigura por vezes demasiado lento, muitos se perturbam com a acusação de imobilismo; mas uma coisa é o imobilismo na acção e outra a estabilidade das concepções políticas. A verdade é por essência imutável e a adesão do espírito à verdade, ou seja, as certezas do espírito, são essenciais ao progresso das sociedades humanas.
António de Oliveira Salazar, discurso de 28 de Maio de 1966.