O carácter português


A questão da raça lusitana apresenta-se-nos, pois, nestes termos: há uma originalidade colectiva no povo português, em frente dos demais povos da Península? Cremos que a há, circunscrita porém a traços secundários. Cremos que as diversas populações da Espanha, individualizadas sim, formam, contudo, no seu conjunto, um corpo etnológico dotado de caracteres gerais comuns a todas. A unidade da história peninsular, apesar do dualismo político dos tempos modernos, é a prova mais patente desta opinião. Esse dualismo, porém, leva-nos também a crer que, entre as diversas tribos ibéricas a lusitana era, se não a mais, uma das mais individualmente caracterizadas. Não esquecemos decerto a influência posterior dos sucessos da história particular portuguesa; mas eles, por si só, não bastam para explicar o feitio diverso com que coisas idênticas se representam ao nosso espírito nacional. Há no génio português o que quer que é de vago e fugitivo, que contrasta com a terminante afirmativa do castelhano; há no heroísmo lusitano uma nobreza que difere da fúria dos nossos vizinhos; há nas nossas letras e no nosso pensamento uma nota profunda ou sentimental, irónica ou meiga, que em vão se buscaria na história da civilização castelhana, violenta sem profundidade, apaixonada mas sem entranhas, capaz de invectivas mas alheia a toda a ironia, amante sem meiguice, magnânima sem caridade, mais que humana muitas vezes, outras abaixo da craveira do homem, a entestar com as feras. Trágica e ardente sempre, a história espanhola difere da portuguesa, que é mais propriamente épica: e as diferenças da história traduzem as dissemelhanças do carácter.

Oliveira Martins in «História de Portugal».

Absurdo Ortográfico

Exemplo: «Numa sala há duas pessoas. Enquanto uma espeta um prego na parede, a outra assiste televisão. Ambos são espetadores».

O Acordo Ortográfico é um absurdo. Quem o rejeita, não o faz por imobilismo, mas por coerência ortográfica.

O aborto em Portugal desde o referendo de 2007

As principais conclusões que gostaríamos de destacar são as seguintes: 1. Desde 2007 realizaram-se em Portugal mais de 80 mil abortos legais "por opção da mulher"; 2. A reincidência do aborto tem vindo a aumentar consideravelmente. Em 2010, houve 4600 repetições de aborto, das quais mil representaram duas ou mais repetições; 3. As complicações do aborto legal para a mulher têm vindo a aumentar todos os anos, registando-se mesmo uma morte em 2010 (facto que não acontecia desde 1994); 4. A intensidade do aborto é maior nas mulheres mais instruídas, com idades compreendidas entre os 20 e os 35 anos; 5. Desde o primeiro ano da implementação da lei houve um aumento de 30% no número de abortos por ano (15 mil no primeiro ano e 19 mil nos últimos anos); 6. Desde os anos 80, Portugal acumula um défice de 1.200.000 nascimentos, necessários para assegurar a renovação das gerações e a sustentabilidade do País. Desde 2010 que esse gap não é compensado pela emigração; 7. Os dados do aborto fornecidos pela Direção Geral de Saúde têm vindo a perder transparência e rigor: não há relatórios semestrais desde 2009 e a informação contida nos relatórios é menor desde 2007. Federação Portuguesa pela Vida

Democracia Cristã

A Democracia Cristã acredita no sufrágio universal que Pio IX chamava de «mentira universal», acredita que os incapazes de governar têm competência para escolher os que hão-de governar; a Democracia Cristã acredita na separação dos poderes que coloca o Estado numa situação absurda tirando-lhe toda e qualquer unidade de acção, a ele que deve ser o centro dirigente da vida nacional; a Democracia Cristã é republicana, desejando, pois, que o poder dependa do arbítrio da multidão ignara; a Democracia Cristã defende a existência dos partidos políticos, factores de dissolução nacional, que transformam os países em autênticos campos de guerra civil, guerra civil de que só vêm a aproveitar os arrivistas, os videirinhos de toda a espécie.
A Democracia Cristã tenta encarnar no nosso século os princípios da Revolução satânica que, pela voz de alguns dos seus corifeus, já ousa afirmar ser de raiz católica, embora desviada e transformada, tenta encarnar os princípios da destruição e da morte.
Partido dos tímidos e dos resignados, ao serviço de uma ideologia mortífera, envolvida em ténues véus de conservantismo e de moderação, é bem um resíduo vetusto do estúpido século destinado a desaparecer, quando renascerem «para ventura dos povos e tranquilidade do mundo» os princípios eternos da vitoriosa Contra-Revolução.

António José de Brito in «A Nação», nº 24, 3 de Agosto de 1946.

Nota de A.J.B. – Sempre que empregamos a expressão Democracia Cristã, não queremos de forma alguma referir-nos ao sentido que Leão XIII, por exemplo, lhe atribuía. Com efeito, o Pontífice ensinava que «seria injusto que o termo de Democracia Cristã fosse desvirtuado para um sentido político... só se deve empregá-lo tirando-lhe todo o sentido político e não lhe ligando outra significação a não ser uma acção beneficente e cristã para com o povo» (Encíclica Graves de communi). Ora nós, evidentemente, queremos apenas fazer menção aos partidos políticos que tomam tal designação.

O que é uma opinião?

É claro que, nesta altura, os nossos inimigos gritarão indignados: – e a liberdade de opinião, a possibilidade de exprimir à vontade o que se pensa?
Simplesmente, o que é uma opinião? O Sr. Jean-Paul Sartre abriu o caminho, decretando que o anti-semitismo não é uma opinião. E, nos nossos dias, não são opiniões a apologia do Fascismo, o aplauso ao Princípio do Chefe, o Colonialismo, o Fundamentalismo, etc., etc.
Penas graves incidem sobre quem perfilhar tais concepções. E até nesse grande baluarte do pensamento livre, que é a Áustria alemã, a velhíssima tese "a utilidade comum acima da utilidade particular" levou à extinção de um partidozinho que buscava estruturar-se.
Em nome da liberdade de opinião numerosas opiniões são banidas, sob o pretexto que não são opiniões. O monolitismo doutrinário instala-se sob a égide da luta contra o monolitismo doutrinário. Risum teneatis.
No entanto, objectar-se-á: a liberdade não tem o direito de defender-se contra os que a atacam?
Só que a liberdade ou é para todos ou não é liberdade, passando a ser imposição de umas vontades a outras. E se é imposição, adeus liberdade. Acresce que se esta for valor a acatar com reverência por quem quer que seja, estamos caídos no império de uma ideia única.

António José de Brito in posfácio a «Discursos da Revolução», 2006.

Lenine e o Regicídio de 1908

A notícia do assassinato do rei D. Carlos I e do príncipe herdeiro, Luís Filipe, abalou a opinião pública russa da época, mas nem todos choraram a morte dos dois membros da família real portuguesa.
"Petersburgo está repleto de impressões sobre a tragédia de Lisboa. Todas as conversas abordam apenas esse tema... A missão portuguesa, situada na Rua Mokhovaia, a partir das duas horas, ficou cercada de coches e pessoas que vieram apresentar condolências", noticiava a Agência Telegráfica de São Petersburgo.
Esta agência informava também que recebeu "a primeira notícia apenas às 9 horas da manhã, visto que o telegrama chegou com significativo atraso devido a uma avaria na linha".
"Assassinato do rei de Portugal e do Príncipe herdeiro", titulava o diário Russkoe Slovo no dia 04 de Fevereiro.
"Às seis da tarde, na Rua do Arsenal, o rei Carlos e o príncipe herdeiro, que regressavam num coche aberto de Vila Viçosa, foram assassinados a tiro. No mesmo coche seguiam a rainha D. Amélia e o infante Manuel. O infante foi ligeiramente ferido e a rainha saiu ilesa", escrevia o correspondente desse jornal em Lisboa.
Segundo o correspondente russo, "logo após o assassinato, começou a correr o boato de que o crime foi obra de uma conjura, de que a polícia estava ao corrente. O facto de os assassinos terem sido mortos no local e não detidos... é visto como uma intenção da polícia esconder os rastos da conjura. Se a polícia estivesse minimamente vigilante, o assassinato teria sido impossível".
Quanto à autoria do crime, as notícias eram confusas: "Pensa-se que os assassinos foram recrutados pelos republicanos e os terroristas não estão ligados a esta conjura", transmitiu o correspondente do Russkoe Slovo.
"Pensa-se que um dos assassinos é francês e outro espanhol", informava a Agência de Informação de Petersburgo.
"Quem assassinou o Rei de Portugal?" – perguntava o Russkoe Slovo a 08 de Fevereiro, e respondia citando Guerra Junqueiro: "na conjura não participou o Partido Republicano, mas os chamados exaltados, que não obedecem à disciplina do Partido Republicano e vão mais longe nas tendências revolucionárias".
Vladimir Lenine, futuro dirigente da União Soviética, escreveu sobre o regicídio no artigo: "Sobre o que aconteceu ao rei português", publicado no jornal Proletarii de 19 de Fevereiro de 1908.
"A imprensa burguesa, mesmo a mais liberal e democrática, não pode passar sem a moral da extrema-direita ao abordar o assassinato do aventureiro português", escreveu Lenine, acrescentando que "...o sucedido com o rei português é verdadeiramente "um desastre profissional" dos reis".
"Nós, da nossa parte, acrescentamos apenas que só podemos lamentar uma coisa: que o movimento republicano em Portugal não tenha, decidida e abertamente, dado cabo de todos os aventureiros. Lamentamos que no sucedido com o rei português seja ainda evidente o elemento de conjura, isto é, de terror que, na sua essência, não alcança os objectivos, sendo fraco o terror verdadeiro, popular, realmente renovador, que tornou famosa a Grande Revolução Francesa", continua Lenine.
Segundo ele, "até agora, em Portugal conseguiu-se apenas amedrontar a monarquia com o assassinato dos dois monarcas, mas não exterminar a monarquia".

JM